18.7.06

Queria algumas palavras invisíveis, uma sílaba que não dissesse nada, que não apontasse pra canto nenhum; que tocasse o lá do abandono ou o silêncio do inefável: era essa palavra que eu queria; que não me dissesse nada, não conversasse, não carregasse interpretações e dúvidas e incertezas e avisos, tudo o mais já é por demais impreciso, meu deus! Queria uma ela, uma vida que não fosse isso, queria carne, seios, pêlos, coxas, língua, queria uma vida ela. Uma vida isso, largada na brancura do abandono, solto na liberdade resignada não me serve. Não quero isso. Quero futuro, depois, amanhã, quem sabe, meu deus, daria tudo por um quem sabe, um pode ser, um vamos ver, um sei não acho que sim pode ser quem sabe;

Quero esse mundo bombardeado, quero parar de chorar, quero parar de sentir-me nos outros, quero a verdade que sei inominável, ou quero ao menos um paliativo, um coquetel de certezas com doses homeopáticas de tudo-bens e vamos-ver-o-que-o-futuro-aguardas. Não sei o que quero desse mundo, ou dela, ou de mim. Não sei se quero. Não sei. Não.

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