29.4.06

Toda guerra deveria ser latente.

24.4.06

Essas coisas são tão engraçadas.

Hoje, indo pro mundo, vi, do banco de trás, um Fox preto na frente do nosso carro. Com um adesivo inclinado, bem assim, sem colocar, nem botar:

Manu & Caio
Sentei e comecei a apertar as teclas, mas o meu trabalho vai bem mais além disso. E uma parte dele vem depois. Mas só o barulho das teclas já ajuda, acho que o cérebro se engana, e chama todo mundo pra olhar. No meio dessa gente, eu me encontro, observando o gatinho morto no meio da rua, aquelas cenas que a gente vê e não consegue desviar o olhar.

Gostaria de ficar cego pras minhas palavras; observar o vôo delas, bem longe daqui, no barbante do horizonte, depois do mar, antes do sol, que é pra não se queimarem - palavra não tem protetor solar. Elas queimam, e só quem lê sabe como queima. Quem bota no papel é só um botador, um colocador de coisas nos lugares certos: eu gosto mesmo é de ler.

Mas sou injusto conosco. Nós temos um pouquinho de trabalho - ou labor, ou ação, que o valha - temos que sentar, olhar o caderninho de anotações, procurar o sentimento pra emendar nas palavras, desembestar, parar, tomar um copo d'água - alguns tomam Coca-cola com creme craquérs - olhar, ver a merda que saiu, tentar encontrar algum valor e sair futricando até conseguir ficar só com uma carta na mão.

Escrever é jogar mexe-mexe. Mas isso sou eu.

E queimam porque acendem o fósforo de dentro da gente.

Créditos.

Da filosofia da Burrice: Felipe Assolan.

Teste.

Para ver se voltaste a funcionar.

20.4.06

Arruína-se a festa que se desenrola sem que o anfitrião reitere várias vezes aos presentes como eles são bem-vindos.

19.4.06

Filosofia da Burrice: um adendo.

Uma Burrice soberba: encimesmada pra fora, de modo a captar as obviedades mais pululantes que se hão de achar em toda a realidade, a despeito de todo tipo de absurdez intelectiva que se nos possa aparecer.

Um pós-cartesianismo, para colocar o prefixo da moda. Uma filosofia das certezas, dotada de dúvida saudável e consciente de seu próprio nariz de palhaço. Além do espírito de gravidade. Esta burrice encontra-se embasada no si-mesmo de nós-todos.

Como direi? Disse-me, e ouvi:

Uma Burrice pragmática, pois não, que renuncia, sempre que o é devido, à infinita capacidade de abstração intelectual humana com o intuito de, mui humildemente, prognosticar as coisas com o que há de mais réles no pensar.

Burrice, além de tudo.

16.4.06

O fim está bem longe daqui,
porque todas as coisas
já terminaram.

o término eu consigo enxergar:
ele chega bufando, batendo o pé,
gritando que acabou.

O fim é um silvo da floresta noturna,
é um sopro na lagoa parada,
é uma jangada em alto-mar.

...mulher...

As coisas acabam
depois que enxergo no horizonte
um sorriso de criança
e um suco de maracujá gelado.

15.4.06

Poesia kamikaze e arregaçada.

Chega dessa frescuragem toda.
Chega de tanta babaquice.
Eu quero é que o mundo se exploda
Numa implosão de sem-vergonhice.

14.4.06

Na minha nuca tem um peso que tá entupindo meu caninho de idéias. Só consigo me lembrar do que li o Tchekhov dizendo: você tem que escrever mesmo se não estiver com vontade. Não foi exatamente isso, mas eu nunca transcrevo nada do jeito que tava antes, então.

Já parou para pensar que talvez a vontade de escrever e a inspiração não sejam tão amiguinhas quanto a gente pense? Quantos textos devem ter sido escritos como se o escritor estivesse empurrando um carrinho de mão cheio de areia vermelha? E chegasse lá, ainda tivesse que remexer na areia, misturar com água, fazer um buraco - não nessa ordem - pra só depois levantar o muro. Já pensou num negócio desses?

Vou terminar de ler o Teoria do Conto.

10.4.06

Jesus. Não existe, nesse blog, um texto que seja apresentável. Meu deus, deve ter mais de 220 post por aqui, e tudo que eu consegui encontrar foram 8 que nem tenho certeza.

o.o

9.4.06

Quero ver como a Clarice.

Não quero amigos de almas pequenas.
Quero almas tão grandes
que não caibam nelas nem toda a estória
da história.

Quero um pouco do mar Egeu
nas minhas lágrimas européias.
Eu quero um pouco da Amazônia
no meu sovaco fedorento.

Eu quero pensar na minha terrinha
como um lugarzinho bom de viver e fazer poesia.
Mas quem escolhe não sou eu:
são elas, que fazem isso daqui.

Tenho que me cegar,
e me privar de toda sanidade,
de todo bom senso,
de toda razão,
de toda lucidez
e,
então,
deste modo,
com todas as forças,
finalmente,

Poderei ser quem eu quero ser.
Nem que seja só por uma
verdade inventada.

7.4.06

Tô escrevendo grande demais.
Eu me sinto como aqueles caras com os chapéis engraçados e as cornetas douradas e os sapatos enrolados. Sou aqueles arautos da corte que anunciam quem vem entrando na sala, enquanto a pessoa nem espera eu terminar. Não sou aquele que chega, e as minhas palavras devem começar e terminar com música solene e simples, mas pomposa, caso a ocasião requeira.

A minha roupa é verde com vinho. Não tenho queixo, o nariz é empinado e os olhos fechados. Anuncio, a criatura entro e ou fico - de olhos fechados - parado, ou me retiro e espero alguém mais chegar. Um anunciador, de calças apertadas e olhar lunático, quase de bobo, mas o bobo é outra coisa, que eu já explico.

Vou explicar o bobo, mas primeiro vou dizer porque não me considero um: é que bobo é chamado pelo Rei quando não tem mais nada pra fazer; quando o Rei reina, mas quem governa é o imperioso tédio. O Bobo diverte e subverte, que a loucura dá à ironia uma máscara de sorriso de criança, e toda criança é louca: louco pode tudo. Lacan dizia ter cinco anos. Abirobado.

Pois bem, acabei dizendo o que era o bobo antes de me justificar. Faço-o agora: não sou bobo - bobos também são anunciados. Eu sou aquele que deposita a presença e sai de fininho. Eu sou aquele que a qualquer momento pode ser esquecido numa viagem à outro castelo estrangeiro. Quando a Corte precisa cortar gastos, adivinha quem vai primeiro? Vós sois as palavras, passíveis de anunciação; eu, os outros. E os outros são vazios e tão pequenos que.

5.4.06

Pergunta cavalar.

Quando foi que eu perdi as minhas histórias e fiquei só, com os aforismos inúteis?

Eu quero uma história. Alô? Tem alguma história aí? Só de pepperoni. Calabresa? Não, calabresa tem não; tem pepperoni. Que que tem na de pepperoni?

Um bocado de silêncios e vazios e personagens desagregadas, que herdaram uma tradição ensaística dantesca e que não preza pelo sentido. Nem sei praquê o dantesca.

3.4.06

O Biquíni Rosa.

Entre o mercadinho Cristovão e o Bar e Restaurante O Armando, encontrei amassado, negro, enlameado, perdido na rua um biquíni rosinha com as bordas brancas. E aquele biquíni, talvez, pertencesse a uma menina lá da periferia - a mãe deu de presente de aniversário, num domingo, dia de praia. Mas, não se sabe como, talvez ela tenha perdido nessa viagens de família pra Praia do Futuro, onde as sacolas sempre voltam ou mais cheias ou mais vazias.

Aquela pecinha foi de uma jovem, que agora já é adulta, e que não tinha mais utilidade pro biquíni. Dentro do ônibus, com uma sacola velha, indo pra casa do terceiro namorado, encontrei, já perdido, o biquininho no meio do batom vermelho, do perfume, da calcinha, do sutiã. Não se lembrava a quem pertencia. De ninguém. Fora. Pra rua, é encontrado pelo escritor, aprisionado nas palavrinhas rosadas com bordas brancas.

Mentira tudo isso: o biquíni era é de um menino. Menino homem, macho, viril, que com doze anos já havia perdido o cabaço, como diz um amigo meu eu não vejo faz um tempo. Perdido o cabaço, ele saiu correndo da casa da menina, tropeçou na vestimenta, ouviu o ranger da porta, correu, saltou pela janela saiu correndo, enquanto sua companheira de putaria ajeitava, pra ficar tudo direito.

Depois, o menino bateu uma punheta pensando na já experimentada situação, que tantos morrem sem nem saber o que é, gozou, jogou fora a última lembrancinha inoportuna daquele evento memorável.

Cinco dias depois, a mãe descobriu, a menina ficou grávida e o pai matou o moleque de peia.