27.2.07

Good point

If all the world's a stage, where does the audience sit?

26.2.07

Chega a mãe pro filho.

- Tiraste a barba e deixaste essa barbicha pra fazer uma moldura?
- Moldura?
- É: de rosto.
A vocação literária dos dois pontos é fora-de-série.

25.2.07

uma personagem

A minha personagem seria uma mulher morena e surpreendentemente entendiada. Ela estaria ali, especificamente naquela hora, por tédio. Com sua mão direita no queixo, a coluna em L e as pernas em X, observaria, do alto de sua varanda, os transeuntes daquela tardinha amarela.

Seria uma tardinha excepcional, já que minha personagem não se entediaria com freqüência: seria dona-de-casa, enquanto o marido que eu lhe daria seria médico - clínico geral - e, neste momento inexplicável de tédio de minha personagem, estaria ele no consultório, consultando. Seus três filhos, todos de idades distantes, seriam uma menina, um rapaz e um jovem homem, estudante de medicina. Quanto aos afazeres domésticos de minha personagem, estes comeriam, se não inteira, uma bela fatia de suas horas, não sobrando migalha que fosse para ocupar com aquele inesperável tédio de agora.

Prontinho: com minha personagem localizada numa varanda, com três filhos, um marido médico e um tédio ensandecedor, posso deixá-la existindo, perscrutando a calçada inflamada com a cacofonia dos passos, naquela tarde amarela, tão, inexplicavelmente, tediosa.

A idéia eu roubei daqui. Com todo respeito.

24.2.07

De dentro do Aurelinho

O quanto sexo (ou amor) e morte (ou morbidez) são contígüos.

lân.gui.do adj. 1. Sem forças; fraco, debilitado, langoroso. 2. Mórbido, doentio [Antôn. (de 1): enérgico, robusto; (de 2): saudável; sadio.] 3. Voluptuoso, sensual, langoroso.

Fantástico, não?

23.2.07

Te quiero infinito, honey baby

Em meus passeios matinais pela blogosfera, caí de boca neste poema. O poeta chama Jaime Sabines, mexicano. Quem gostar levanta a mão.

Yo no lo sé de cierto

Yo no lo sé de cierto, pero supongo
que una mujer y un hombre
algún día se quieren,
se van quedando solos poco a poco,
algo en su corazón les dice que están solos,
solos sobre la tierra se penetran,
se van matando el uno al otro.

Todo se hace en silencio. Como
se hace la luz dentro del ojo.
El amor une cuerpos.
En silencio se van llenando el uno al otro.

Cualquier día despiertan, sobre brazos;
piensan entonces que lo saben todo.
Se ven desnudos y lo saben todo.

(Yo no lo sé de cierto. Lo supongo)

22.2.07

True story

- Eu conheço essa música. É Coldplay?
- Isso é Imagine, doido.

apreciação descompromissada

Texto de quatro movimentos, intercalando observação, divagações literárias, divagações sexuais, escavação mental das personagens, retorno - pela curva - à observação. Sempre com o ser-humano capturado na situação real e momentânea, passando pela crivo da palavra e pelas escolhas - e pulos - do autor.

Garoto-esfíncter
ga.ro.to (ô) adj. 1. Que brinca ou vadia pels ruas. - sm. 2. Rapaz que vadia pelas ruas 3. Bras. V. menino.

es.fínc.ter sm. Anat. Faixa anular de fibras musculares que, ao relaxarem-se ou contraírem-se, regulam o trânsito de vários ductos naturais de corpo. [Pl.: esfíncteres.] - es.finc.te.ria.no adj.
Que barriga grande, de curva. Desquebrante demais da conta. De dar vontade de falar mal. Um mal de século, coisa de nêgo mau.
E o menino de barriga com raio infinito. Surge-me uma vontade de falar mal, tão normal, tão automática, imiscue-se no canto do meu olho, o qual vê a barriga preenchendo a cena: o menino com o dedo na boca. Olha para um lado. Ao outro. Encontra-me. Fita-me e percebe sua barriga capturada na minha íris, no branco dos meus olhos, em posição de combate, guerra que não quero e fujo, para meus livros. Volto meu olhar para dentro do ônibus. Tento mudar o de dentro outra vez e continuo sem entender.
Me endiabro de não lhe entender, de querer e não conseguir ser como aquela escritora que falou denso. Ou aquela que falou, maria-homem como só de cabelos curtos, e não daquele jeito meio Marisa Monte. Que afirmou sua originalidade da forma mais sensacional, já nos ensinada. Putismo de primeiro grau. É onda. É parisismo. O bem do nosso século. Falar de si mesmo, achar isso bonito, pular essa e achar mais bonito ainda. Imagina você sendo entrevistado? Que lindo. Falar de você mesmo. Sorrir e achar sua excentricidade um máximo. Se pula. Pula-se. Escolhe.

Ele, de nome grande, alemão-meio, nome de touro da Disney. Corno manso, desajeitado. Falável. Nem quer saber da vida. E muito menos da flexibilidade dela. Agora, ela, de roupas até agradáveis, de boca esporrante, quer mesmo é do outro.
Sexo em flexibilidade esporrante, atrás de véus: sexo de soslaio: voyeurismo acidental. O nome fálico, meio-alemão, grande, como um touro: da disney, porque corno manso e desajeitado: ômi mole réi.
Do minino de ouro. Quer o mundo, faz marmita por esse mundo. Só pra ele. Ele, bem longe do mundo e da Linha Amarela.
Um garoto-abertura, esse de ouro: abre-me - abre para mim. É um pórtico, no meio da rua, fora dessa realidade, fora dessa rua, longe da Linha Amarela. Seria divino, não fosse sua barriga grande, de curva, o dedo na boca; a distância do mundo - não pela santidade: pela fome. Esse meu minimo, de ouro, não quer-se porta, não deseja abrir a minha mente para o tudo do mundo: capturei sua curvatura no meu olho - quer, como eu, um pedaço de Terra só pra ele, longe daqui, onde ninguém pode nos pertubar, onde ele vai poder comer em paz. Comida de marmita mesmo, que self-service é chique demais pra traição e miséria. Presse mundo aqui. Só nos livros, longe daqui, da Linha Amarela.

21.2.07

volta do carnaval

Esse negócio de ler Maiakóvski na loja de conveniência não está com a menor nada.

O sentido, meu povo. Não a música.

12.2.07

faz-se unhas

- É fazem-se, tia.
- Elas ficam lindas do mesmo jeito, meu filho.

outra brincadeira: mexendo com o dos outros

Não se inserem no percurso da vida as grandes ocasiões em que estamos velejando sós.

Sempre lamentei muito essa lacuna dos navios: tão navios que são masculinos e terminam em O, que só não são maiúsculos por falta de regra, mas não deixam de ser belos e bonitos, e até encontram-se traços e laivos femininos: brinco na orelha, cílio arrebitado, radiando como uma manhã: lindas são todas as manhãs femininas em que acredito na lealdade das pedras, nos meios dos caminhos, tropeçando em espelhos, em mins-mesmos; trezentos e cincoenta mins procurando cola e fio-condutor - ou pára-raio. Parte de mim, para chegar em mim, navegando no meu navio, a procura de mim, sem saber que estou atrás de mim mesmo. Meu amor por mim, nas últimas profundezas do galeão, é-me incognoscível. Minhas tristes noções de honra são o amor que tenho a meus espelhos.

Quanto ao resto, o resto é (silêncio? não, não) canção e música, longe de apreciação, crítica, pitaco.

11.2.07

brincadeiras, exercícios

E um microuniverso, onde cada passo é pisar em ovos, forma-se ao redor de cada palavra. E como se tudo não fosse tão errado; como se cada coisa tivesse seu sentido mais uma vez; como se o abismo não perscrutasse-me de volta nos olhos, sub-repticiamente, aproximei-me.

E o vermelho e o negro abarcaram toda a imensidão daquilo que podiam abarcar: acabei-me invisível, como a linha do horizonte, existindo por oposição.

***

início (+ - 23:50h)

Sangue da boca é
sangue na boca sangrenta
da bocarra sanguinolenta.

Sangue bucal
no sangue bucólico.

Bucolismo venéreo é
verdade de sangue.

Da boca, de sangue,
sai verdade, mentira
tudo de sangue.

Sangue, na boca de sangue,
é sangue da boca
do mesmo jeito.

término (+- 23:59h)

7.2.07

Bad Religion


A brutal sun is rising
on our sick horizon.

4.2.07

Assustou-se com o volume da própria voz: muito barulhenta para a hora silenciosa, para o livro fechado, para o parágrafo deixado de lado: o sono lhe dominara e esquecera-o de controlar a passagem de ar, vibrando-lhe as cordas vocais além da conta: muito perceptivo para a hora, demais.
Lá na escola, viu, tem um menino, que ele vai todo maquiado, vestindo aquelas saias longas até aqui. Ele leva a caixa de maquiagem, e fica maquiando as meninas, quero que tu veja. Também tem uns menino lá que desmunheca, e com esses os garotos implicam, mas com esse, de jeito nenhum: num tem um que diga esse tantim com ele, viu?

1.2.07

... Mas também tu não precisas sentir tudo de uma vez, ou uma coisa de cada vez, nem precisa se preocupar tanto com tudo ao mesmo tempo, nem se preocupar por não estar se preocupando com outras coisas que talvez merecessem preocupação.

Fica calmo, baby.