28.8.06

Seis horas da manhã e sete minutos.

Nevava fora da sala; as janelas haviam sido trancadas; as cortinas ainda estavam abertas; as paredes do quarto eram da cor de musgo; não havia luz no teto; não havia enfeites na mesa. Retangular e marrom, bastante prática. Algumas cadeiras igualmente simples; uma estante escassa de livros e um criado-mudo com um abajur desligado.

Começam a chegar homens bem vestidos, de ternos cinzas, negros e azuis. Cado um arruina o silêncio ao puxar a cadeira de modo observar todos os rostos. Ninguém nas pontas.

Todos se levantam, saúdam o último a chegar e principiam os arranjos para.

23.8.06

A história da minha vida

Uma boa história é tudo que eu quero. Uma história com começo surpreendente, instigante, alguém morrendo, suas últimas palavras, uma conversa interrompida na metade; um telefonema anônimo, uma carta anônima, um beijo anônimo, uma morte anônima, algo anônimo; um zero no preâmbulo, depois um dois no início: onde foi parar o um? Mistério...

O meio seria a descida da montanha russa: tudo é muito rápido e tem que reler aquela parte pra entender quem comeu quem e quem dispensou quem e da onde veio aquele telefonema e com que propósito.

Quero uma história fantástica, baseada em fatos reais.

Infelizmente, tenha somente um começo fraco, um nascimento; uma infância inócua, e uma adolescência sem altos nem baixos. Posso esperar por uma maturidade anódina e seca, sem grandes doenças, sem grandes conquistas. Finalmente, uma morte fraca e previsível. Nada de continuação depois: seria um fracasso de bilheteria.

E não se engane: eu sou o vilão. O fétido e verruguento vilão de nariz adunco.

14.8.06

O zênite da mediocridade, novamente.

10.8.06

But can we live without them? Memories are what our reason is based upon. If we can't face them, we deny reason itself! Although, why not? We aren't contractually tied down to rationality! There is no sanity cause!

8.8.06

Uma vantagem do dogma de que somos prisioneiros de nosso próprio discurso, incapazes de apresentar razoavelmente certas pretensões de verdade porque tais pretensões são meramente relativas à nossa própria linguagem, é que nos permite transitar pelas convicções de todas as outras pessoas sem nos onerarmos com a incomodidade de precisarmos adotar alguma convicção. Trata-se, na realidade, de uma posição invulnerável, e o fato de que também seja totalmente vazia é apenas o preço que se tem de pagar por isso.

6.8.06

Depois de muita deliberação...

...e debate acerca dos temas e propósitos apresentados, foi homologado que sei lá.

2.8.06

Noite. Nuvens se movem, abrigadas pelo escuridão da lua nova. Somente seus passos soam; como tanques se arrastando pachorrentamente cospem no rosto sereno do silêncio. Hoje, elas são os olhos da noite. E não fazem questão de esconder sua condição.

Um cachorro reclama do que não viu; alguém dorme coberto por jornais, nas escadarias da universidade. Os portões negros do prédio rosa fecham às seis horas da noite. O centro da cidade demora mais para calar-se. O vento abre caminho pelas frestas, procurando quebrar o muro da conivência; o vento quer nos mostrar o homem por debaixo dos jornais, quer que ouçamos os portões negros trancados, guardando o quê? O vento soa pelas frestas da cidade, mas ninguém o ouve. Somente as nuvens são testemunhas do calafrio de alguém.

...Um grito rouco.

1.8.06

Tinha que terminar isso. Não: tinha que terminar ela; Isso são coisas e nunca um coisa teve algum valor para ele quanto ela, nunca, e nunca é um conceito complicado, porque envolve ternura; sentia ternura por ela; era o meio pelo qual o tempo entrava na sua carne e ele via as horas passando, e corriam mais rápido que o seu pequeno caleidoscópio de imagens podia pintá-las; naquela velocidade, os passos se moviam lentamente, e ele estava a cento e vinto quilômetros por segundo, e tudo que imaginava era a solidão daquele abraço, a qualidade daquele abraço, o silêncio de que necessitava para chegar nessa velocidade horrível: o preço de terminá-la; os momentos seus-ela foram os mais importantes da sua carne, dos seus olhos, e tudo que há neste segundo de infinita claustrofobia é uma cegueira, uma neblina de memórias, tudo perdido e embaçado pela chuva que começou a cair ao término dela; tudo estava muito veloz naquela noite.