30.5.06

Não gosto de nada por inteiro.

às vezes, eu tenho momentos de não saber o que eu quero da vida. sem tê. nem porquê.

E eu roubei um gatinho da rua. Ziggy.

21.5.06

A noite das vinte e três horas é mais escura que a das vinte e duas.

17.5.06

Ninguém se importa com as minhas intenções. Ninguém quer saber o que eu quero da vida. E o meu discurso muda a cada minuto, preocupado com os outros que não estão preocupados comigo. Fazer o quê, sou assado, os outros são assim.

Não sobreviveria sendo assim, vivo sendo assado, e me estrepando quase masoquisticamente.

Por quê? Quem se importa com coisas importantes? Todo mundo - e quando eu digo todo mundo, eu não quero dizer todo mundo - só quer saber dos problemas que o olho pode ver - e problema é uma definição subjetiva e completamente guiada por uma moral construída e aceita.

Aí, quando eu tento ajudar, abusam da boa vontade, e derrubam os problemas em cima da minha caçambinha míuda - afinal, não tenho problemas, e se tenho, não são tão gigantescos e não merecem a mesma primazia e a mesma gravidade que estes daqui. Passei a minha vida inteira sem poder fazer o que eu queria, sem poder falar direito com a minha mãe.

- Ave maria, menino, pára! Tu tá parecendo o teu pai!
- Affe, caio, tá ficando igual teu pai!
- Isso aí é coisa do teu pai! Olha a besteira!

E eu? Será, porra, que eu, nenhuma vez na vida, posso ser parecido comigo mesmo? Será que eu vou sempre ter que viver em função do meu pai, ou do Leonel, ou de qualquer outro que chegou primeiro e arruinou tudo? Por que quando eu tento ajeitar as coisas, todo mundo reclama? Por que quando eu falo o que eu penso, ninguém aguenta e joga o meu discurso no boca de quem não presta? Eu não sou uma pessoa legal? Cadê eu?

14.5.06

I

Mas o que é que eu sei de puta pra contar uma estória inteira sobre uma? Nem sei mais se a Rita continua dando, se o Roberto é vivo, viúvo, se parou de beber, se foi preso, denunciado. Sei lá. Eu entendo de Beatles, de nomes de autores, dessas coisas sem importância, que não servem pra mudar o mundo.

Saiu correndo: que nada na sala era dela.

É como xadrez, olhares tornam-se peões; os reis são o seu orgulho; as rainhas são as músicas e o os mitos que guiam. E nossos atalhos:

- Atalho é falácia.

Mas não vou discutir a existência de atalhos. Aqui não. Aqui, ela fugiu.

Deixou a porta quase aberta, e atravessou o corredor verde amarronzado. Não cito a luz vermelha por medo de cegá-lo ou pra ficar mais difícil de misturar o verde com o marrom e depois com o vermelho. Pode imaginar só com o verde amarronzado, ou verde-marrom, como era de primeiro. Eu não me importo. Me importo com o fato dela ter saído correndo, feito louca.

Ela saiu, e eu pude ver a lâmpada redonda quase caindo do teto. Ela continua a ir mais longe daqui, mas ainda quero falar da luz:

Era bem solta. Piscava. Inter. Mitente. Mente. Todo dia, toda hora, toda entrega, toda saída, toda porta semicerrada. Todo mundo tinha medo de chegar de madrugada para aquela luz piscando e cegando e piscando junto com o olho da gente como se lâmpada também lacrimejasse. A esclerosada do andar de cima jurou que, uma madrugada dessas, viu uma gota avermelhada no chão do corredor.

Da mulher: ela, que agora já está bem longe do corredor e da porta entreaberta; que está entrando no carro com alarme eletrônico e constatando que não havia gasolina pra chegar em casa.

Não vou contar o motivo de tanta correria: esta estória de mentira não se faz de porquês. Os porquês estão atrasados e o pensamento não pára pra eu ficar catalogando tudo que já aconteceu. Se for fazer flashback, quando chegar na parte boa, tudo já terá acabado e os dois que estavam na sala com a porta que agora já fechei, já terão se ido fazer sexo-pra-fazer-as-pazes.

8.5.06

Comentário.

Paz. [Do latim pace] S. f. 1.Ausência de lutas, violências ou perturbações sociais; tranqüilidade pública; concórdia, harmonia. 2.Ausência de conflitos entre pessoas; bom entendimento; entendimento, harmonia. 3.Ausência de conflitos íntimos; tranqüilidade de alma; sossego. 4.Situação de um país que não está em guerra com outro. 5.Restabelecimento de relações amigáveis entre países beligerantes; cessação de hostilidades. 6.Tratado de paz. 7.Ausência de agitação ou ruído; repouso, silêncio, sossego.

Não simpatizo com a idéia de me forçarem tudo isso aí em cima goela abaixo. Não que seja algo ruim, mas não sejamos fanáticos. Deve haver melhores meios de se chegar – se é que há um caminho - lá – se é que é um lugar - do que por alguma ditadura com poderes hipertrofiados.

Não é à toa que paz é feminino. Como a verdade, ou a beleza.

5.5.06

Impressionismo.

Quando tiver vinte e dois anos, vou me lembrar do sal fazendo espumas no mar, da cor da minha grinalda.

Estávamos de pé, na varanda da casa. Final de tarde. O céu arroxeado, que eu sempre acreditei ser uma cor alegre. E minha mãe não segurava minha mão, como era costume; sem conselhos ou sermões, nem das coisas que deviam ser feitas. Não mais. Duas mulheres de pé numa varanda, frente para a praia, tentando enxergar as ondas entre as espumas brancas. O céu roxo.

Foram chamar. Era hora, mas nunca a que eu queria.

- Vamos, filha.
- Vamos sim.

Ela foi logo, mas eu tinha que ficar um pouco mais ali, observando o que o mar e o mundo me davam, que talvez eu nunca ganhasse de mais ninguém. Nem mesmo do meu noivo. E nunca ganhei realmente. Nem haverei de ganhar, sem a menor dose de pessimismo. Pensava essas coisas, porque ainda não havia, com vinte e dois anos, descoberto o péssimo do mundo. Desconhecendo-o, fui-me pelo corredor de paredes rosadas.

2.5.06

Três pessoas que eu nunca vi comentaram nesse post aí embaixo. Das duas mulheres, o blog delas nenhum abriu.

Por algum motivo, não posso escapar da minha cabeça que sejam bots que disparam de quando em vez para nos elogiar e dar paliativos de estima.

Hum.