5.5.06

Impressionismo.

Quando tiver vinte e dois anos, vou me lembrar do sal fazendo espumas no mar, da cor da minha grinalda.

Estávamos de pé, na varanda da casa. Final de tarde. O céu arroxeado, que eu sempre acreditei ser uma cor alegre. E minha mãe não segurava minha mão, como era costume; sem conselhos ou sermões, nem das coisas que deviam ser feitas. Não mais. Duas mulheres de pé numa varanda, frente para a praia, tentando enxergar as ondas entre as espumas brancas. O céu roxo.

Foram chamar. Era hora, mas nunca a que eu queria.

- Vamos, filha.
- Vamos sim.

Ela foi logo, mas eu tinha que ficar um pouco mais ali, observando o que o mar e o mundo me davam, que talvez eu nunca ganhasse de mais ninguém. Nem mesmo do meu noivo. E nunca ganhei realmente. Nem haverei de ganhar, sem a menor dose de pessimismo. Pensava essas coisas, porque ainda não havia, com vinte e dois anos, descoberto o péssimo do mundo. Desconhecendo-o, fui-me pelo corredor de paredes rosadas.

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