22.6.06

traições.

Em uma noite de um início de julho, excessivamente quente, um rapaz saiu do quarto que ocupava na água-furtada de um grande prédio de cinco andares na travessa de S... e vagarosamente, com ar irresoluto, tomou o caminho da ponte de K...

Teve a boa sorte de não encontrar na escada a senhoria, que morava no andar inferior. A cozinha, cuja porta estava quase sempre aberta, dava para a escada. Toda vez que o rapaz saía, era obrigado a passar por ali, o que fazia experimentar uma forte sensação de covardia, que o humilhava e o fazia franzir o sobrolho. Devia uma soma importante à senhoria e receava encontrá-la.¹

***

Nos começos de julho, por um tempo extremamente quente, saía um rapaz de um cubículo alugado, na travessa de S..., e, caminhando devagar, dirigia-se à ponte de K...

Discretamente, evitou encontrar-se com a dona da casa na escada. O túgurio em que vivia ficava precisamente debaixo do telhado de uma alta casa de cinco andares e parecia mais um armário do que um quarto. A mulher que lho alugara, com refeição completa, vivia no andar logo abaixo, e, por isso, quando o rapaz saía tinha de passar fatalmente diante da porta da cozinha, quase sempre aberta de par em par sobre o patamar. E todas as vezes que procedia assim sentia uma mórbida impressão de covardia, que o envergonhava e fazia franzir o sobrolho. Estava zangado com a dona da casa e tinha medo de encontrá-la.
²

1. Tradução de Ivan Petrovitch e Irina Wisnik Ribeiro.
2. Tradução de Natália Nunes.

Dois primeiros parágrafos de Crime e Castigo. Batidos me esforçando para não olhar pro teclado.

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