6.2.08

stranger than the whole wide world

Uma cena de Mais Estranho que a Ficção que me deixou intrigado foi a que Robert Crick está no apartamento de Ana Pascal, e esta mostra-lhe seu violão, pedindo a ele que toque. Crick diz conhecer apenas uma música, e que, por ser iniciante, seria melhor não tocá-la, recusando a oferta de Ana. Ela sai para a cozina lavar os pratos do jantar improvisado que os dois repartiram, e Crick fica sozinho na sala, com o violão; uma olhadela de soslaio e a cumplicidade da meia-luz lhe inspira coragem: retira o instrumento do suporte, cerra os olhos e começa a tocar Whole Wide World, do Wreckless Eric.


Crick começa cantando baixinho e tocando nas cordas levemente, pouco mais que o inaudível. Enquanto isso, Ana está na cozinha, terminando a lavagem dos pratos. Quando fecha a torneira, consegue ouvir a melodia envergonhada vinda da sala. Ela segue, então, para a sala, se aproximando, e senta-se ao lado de Crick, que ainda não percebe sua platéia. Agora ele canta mais alto, tocando nas cordas com firmeza, o polegar apoiado no indicador. Ana sorri. Crick sente sua presença e abre os olhos. Notando que é assistido, sua voz vai cedendo à timidez, mas antes que isso possa acontecer, Ana avança, derrubando o violão, e beija-lhe avidamente.

O que me encuca é o porquê dessa reação tão impulsiva da personagem de Maggie Gyllenhaal. Ana é passional e largou a faculdade de direito para cozinhar biscoitos. Tudo bem. Até poderia ser esta a explicação, e eu até poderia aceitar, vendo os lábios dela moverem-se em sincronia com os de Crick na parte do to find out where they hide her. Poderia, se não me houvessem dito - uma amiga - que a razão de Ana ter pulado em cima de Crick é ele estar tocando de olhos fechados. Como não se entregar à verdade desta sentença?

7 comentários:

Anônimo disse...

há ainda a timidez dele, não? não compreendo, mas parece que algumas mulheres adoram uma leve timidez (não confundir com frouxidão).

Anônimo disse...

"algumas mulheres adoram uma leve timidez (não confundir com frouxidão)" [2]

Dayane Abreu disse...

sim, timidez e sinceridade combinadas, então. adoro o desconcerto dele pra me falar certas coisas. ele é irremediávelmente sincero e detalhista, porém tímido. isso o faz tão fofinho.

^^'

nota: a tal da esbella com outra conta; esbella era o nome da minha bivó.

Caio M. Ribeiro disse...

João: Separemos o que há-de se separar, pois não. Bem colocado.

Oh, la, la: Seu apelido me intriga, assim como usar palavras de outrem.

Danny/Esbella: Fofura, então. O nome da minha era Regina, e o meu é Caio. Ainda não utilizo pseudônimos.

Hélio Sales Jr. disse...

Hmmm... eu nunca parei pra pensar na tal atitude dela. Aceitei de pronto. Mas folheando o livro do Palahniuk (eu sou psicopata pelo cara e já li todos, esse é o que menos gostei...), constatei que no livro, ele não está de olhos abertos nem fechados. O autor não delimita isso... O que não importa muito, já que eu não tenho nesse exato instante uma opinião formada sobre o questionamento. Mas diria que no livro ela é ligeiramente mais dark. Será que isso ajuda?
By the way, eu vim parar aqui através do blog do Carlos Wilker.
:D
Valeu!

Unknown disse...

baby, mesmo com todos os argumentos acima apresentados, ficaria com o "tocando de olhos fechados". mas, ó, é uma interpretação pessoal, afinal, acho um charme quem canta assim. [keep in secret]

kisses of whole wide world.

Caio M. Ribeiro disse...

Hélio: Creio que ajuda sim: darker people tendem, na minha experiência a serem mais passionais. Mais um pedaço do quebra-cabeça.

O livro é do Palahniuk? Caralho, que doidera. Para quem conhece só o Fight Club, não tem quem diga.

Valéu, bróder.

Tatinha: O que há de mais pessoal na gente, aquilo que se manifesta na solidão, no pôr-do-sol, no engarrafamento, durante o people-watching é, geralmente, o mais prróximo da Verdade. ;]