4.11.05

Fotografia

Luz escrita e guardada na moldura.

Dois:
Ela, de melenas contra o meu rosto,
olhos curvos, sorriso largo, alegre verdadeiro.
Eu, de óculos arregalados: meus olhos não enxergam.
Fazendo careta, costume infatil e necessário,
porque não quero crescer.
Deus me livre.

Minha dona: tão bom pertecencer àlguém.

O amor é degustado como um pratão de um quilo,
daqueles que o meu pai pesa quando vai comer fora.
Muito amor, muitos meus:
pela união da primeira pessoa,
contra a dicotomia do nós, do plural,
muitos meus se amostram, se falam,
registram, até na foto-grafia,
o amor que é único porque é de dois em dois.
Ele anda de mãos dadas consigo mesmo,
e nós todos somos marias
que seguimo-lo, cegamente - de outro jeito não presta.

Amor é dois, é único, é universal.
Amor não é só um, só dois.

(é só uma)

Amor não tem forma só-um:
tem forma só-várias.
Amor é que eu quiser que seja;
é como nós vemos.

Desculpa, Bandeira,
mas alma ama, sim.
Essas janelinhas, elas é o amar quem abre,
e aí pronto.

O amor está nos olhos de quem vê.
E a foto-grafia, embora presa pela moldura,
foi escrita com libertas, harmoniosas rimadas de luz,
e só de ver o rosto do meu bebê,
já dá vontade de sorrir e mostrar os dentões.

Porque amar é olhar.

Nenhum comentário: