3.1.06

Ghost Story

Se de repente eu desaparecer na metade de uma frase, não me surpreenderei demais; e no mínimo sairemos todos ganhando.
Julio Cortázar

O meu medo da morte é outro. Talvez fosse mais fácil fazendo análise, mas como não sou feito de dinheiro - sou de amor - elucubrações é o ponto limírofe que a minha mediocridade permite chegar.

Aliás, todos os fantasmas tem medo da morte: mas o nosso medo da morte é outro. É o medo do Quintana. Não é morrer, morrer não dói: o negócio é deixar de viver. E eu escrevo por causa disso, pra que possa viver pelas palavras, embora elas não sejam eu, nem nunca serão e é uma ilusão achar que viver por meio das palavras vai me servir de algo depois da morte. Quem me interessa o que acontece depois da miséria humana ?

Não morro de medo de ser esquecido: já senti isso, mas notei que, para tanto, seria preciso que um número razoável de pessoas se lembrasse de mim, mas eu sou aquele eterno "menino que é tão bonzim, né ?"

Tão bonzim é eufemismo dos piores pra fantasma existencial. Sou um ser de baixa densidade sêmica. Uma criatura sem essência significativa. Um dos pontos no sudário da humanidade. O que me resta além de ser uma mancha preta num mar de manchas pretas ? Tento me convecer de que a mediocridade e o esquecimento que nunca me foram dados são meus verdadeiros territórios, onde devo habitar, viver, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. Mas tudo isso não passam de elucubrações do meu corpo.

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