O que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem ?
Como vivi durante
quase
duas décadas ?
Pergunto-me por vergonha.
Não vergonha vergonhosa,
daquelas que avermelham as bochechas:
não essa, mas
vergonha de viver fantasmagoricamente,
que reluz e fulgura
como algo transparente
como um fogo sem lenha,
como uma cabeça de fósforo,
como um lume de lua nova:
quase apagando-se.
Fogo sem carvão para lhe confirmar a ausência.
Minha ausência, onde ela está ?
De onde engendrarei meu carvão ?
Uma ausência contida
em meio ao tudo e tudos e todos existentes
na minha rua,
na penúltima casa da rua,
que muitos nem sabem que ainda faz parte da vida
e do bairro.
30.12.05
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