19.12.05

Sinceramente. Parece-me uma boa maneira de começar uma história: sinceramente. Com a palavra e intenção. É que arte e histórias só se contam e valem quando são ditas na sala da verdade, quando tudo o mais é por demais impreciso.

E a verdade é um negócio muito escorregadio mesmo, que nem comida quente demais, que a gente coloca na língua já querendo tirar pra não se queimar. Na verdade, acredito ter a verdade o maior muro de Berlim já construído entre ela e nossa humanidade. Um muro infinito, que é tão grande, mas tão grande, que nem parece que está lá: o mundo acaba ali.

Mas o mundo não acaba ali: ali começa a verdade. E agora, José ? Somente a humildade mesmo para deixar a gente se aperceber disso. Mas não é a humildade que faz a gente não deixar essa incapacidade de conhecer abalar os nervos da gente.

Acredito que essa força venha do amor Não amor pela verdade, que verdade num é bicho pra ser amado - ou conhecido. A gente ama pessoas, bichos, comidas, lugares, memórias, cheiros, o bubê. A gente ama uma poesia, um quadro, uma palavra, um nariz, algum dente, uma rua, um bar, uma árvore, um livro - vários livros. E do amor a gente não duvida. Ele mexe com o corpo da gente de uma forma tão assim que não se precisa de certeza pra amar: basta amar, intransitivamente.

Diria o filósofo: "amor é uma coisa-em-si."

Um comentário:

Zoeiro disse...

O Nietzsche perguntava: "Quanta verdade SUPORTA, de quanta verdade é CAPAZ um espírito?"

Nossa capacidade de suportar a verdade é inversamente proporcional o tamanho do muro.

Amor?! Também. Só precisamos é de um pouco mais de Vontade e Coragem para pularmos o muro e ver o outro lado, a outra Berlim.

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