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21.4.08

alguns continhos de fillers

Todos os animais que dormitavam em seu quarto amanheciam mortos. // Marcou o derradeiro adeus a seu pai com uma flor. // Já fui um livro de poesias. Hoje, acredito-me um verso. // Um clarão rápido foi tudo que bastou para perderem-se completamente. // Tuas memórias esmoecerão, mas o cheiro de pólvora restará ainda. // A corte dourada aplaudia... Enquanto, do outro lado, lágrimas derramavam-se.

19.3.08

the duality of blog

O blog é um depositário de ficções, onde minha palavra rabisca selvagem o fundo branco, sedento de vogais e consoantes. Sílaba ante sílaba, ofereço verbos e vírgulas. A sede, sem fim, transmuta-me em instrumento do blog, como uma mão enluvada que pega ao lápis negro e escreve na folha almaça. Gasta a ponta, afia-a para escrever novamente. Depois, guarda-me no estojo velho. Ali, enxergo canetas, borrachas e um estilete. Todos amontoados. Somos engolidos, lápis, canetas e o estilete: o zíper tranca-nos em escuridão, onde repousamos silenciosos até o próximo chamado.

... Assim seria não fosse o blog um depositário de ficções, e minha palavra, escrita, não com lápis e borrachas, mas por dedos contra um teclado.

2.3.08

3.1.08

herman hesse

José Servo - creditado como João Servo na sinopse - é um menino alemão que vive no futuro das Escolas de Elite, da Província Pedagógica e da Ordem. Por mais apocalíptico que possa parecer, aqui não se tratam de esquemas governamentais ou tramas políticas; diferente das ficções futuristas de Philip K. Dick e Aldous Huxley, mas próxima das estórias coming-of-age típicas de Hesse, encontra-se aqui um jovem solitário, dedicado às questões do espírito e fascinado pelo tal Jogo dos Avelórios: a bola da vez da interdisciplinaridade.

Muito bom, como todo Hesse. Minha única reclamação é que o autor ainda não explicou como funciona o jogo. Nem parece que vai. Pity.

12.12.07

HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Editora Globo, 1980.

- Eu sei. E isso é mais uma razão para ser severo. Sua elevada condição intelectual traz consigo responsabilidades morais correspondentes. Quanto maior é o talento de um homem, mais poder tem ele para desviar os outros. É preferível o sacrifício de um à corrupção de muitos. Encare o caso sem paixão, Sr. Foster, e verá que não há crime mais odioso do que a falta de ortodoxia na conduta. O homicídio mata apenas o indivíduo; e, afinal, que é um indivíduo? - Com um gesto largo, apontou as fileiras de microscópios, os tubos de ensaio, as incubadoras. - Nós podemos produzir um indivíduo novo com a maior facilidade; tanto quantos quisermos. A falta de ortodoxia porém, ameaça mais do que a vida de um simples indivíduo; ela atinge a própria Sociedade. Sim, a própria Sociedade - repetiu. - Ah! Aí vem ele.

24.11.07

não, não desfiz a conta

Achei isto perdido numa pasta do meu computador: não sei o que significa. Provavelmente, não deve significar nada; talvez, uma brincadeira tentando fazer algo como aquele poema do Robert Frost com os bosques e as promessas e tudo o mais. O título do arquivo é "lua amarelada". Sem caps lock mesmo.

A lua amarelada, por detrás das nuvens,
me avisa que ainda é cedo demais.
E percebo
que ainda é cedo
demais

26.9.07

go, true believer!

Porque quando dá-se o fim do semestre, início das férias, o que se há-de fazer a não ser contar-se uma estorieta em três paragrafinhos mafagafados?

O blog diário que é atualizado, sim, de bimestre em bimestre. mas ei-las!

6.9.07

literatura que arde

Revista malagueta.

Procurem por mim nos minicontos. Obrigado.

21.8.07

mulheres

Eram 5 mulheres no ponto de ônibus.

A primeira tinha os cabelos todos grisalhos e segurava um saco do mercadinho. Dentro do saco, havia dois maracujás, um pacote de leite e nada mais. A bolsa pendia, no flanco esquerdo, pela alça. Esperava o ônibus fazia poucos minutos. Naquele dia, não havia ninguém que fosse lhe apanhar.

A segunda vestia blazer azul-escuro, calça idem, bem apertada, com brincos pequenos, cabelo curto e óculos escuros. Usava sapatos quase sem salto. Estava atrasada para o trabalho e por isso, enquanto segurava o celular, olhava constantemente pela rua, em busca, ai meu deus, do ônibus.

A terceira olhava o chão, sorrindo sozinha. Tinha o cabelo longo e cacheado, preso num rabo de cavalo. Usava sandálias brancas havaianas, saia até o joelho, camisa branca até depois do ombro; quase sempre, nenhuma maquiagem. Mas naquele dia não se aguentou: comprou um batom vermelho nas Lojas Americanas.

A quarta era uma menininha que pegava o ônibus pela primeira vez. Sua mãe lhe dissera que assim que visse o ônibus, fizesse o sinal ao motorista, entrasse por trás, passasse por debaixo da catraca e esperasse. Disse que era para ficar atenta, para não passar do ponto. Muito provavelmente faria a viagem de pé, mas talvez alguém lhe cedesse o lugar. Caso ficasse perdida, ligasse para ela, não falasse com estranhos. Também disse que a amava muito, disse que tomasse cuidado e disse que a amava muito, novamente.

Na quinta mulher, eu não pude prestar atenção: meu ponto era o próximo.

2.8.07

DURAS, Marguerite. O Amante. RioGráfica, 1986.

Durante a viagem, na travessia desse oceano, tarde da noite, alguém morreu. Ela não sabe muito bem se foi nessa viagem ou em outra qualquer. Algumas pessoas jogavam cartas no bar da primeira classe, entre os jogadores estava um jovem e, num dado momento esse jovem, sem uma palavra, colocou as cartas na mesa, saiu do bar, atravessou correndo o convés e jogou-se ao mar. Quando afinal pararam o navio, que ia a toda velocidade, o corpo estava perdido.

19.7.07

mais atualizações

O blogueiro encontrou-se num estado de zen-meditation e resolveu escrever-se um conto de três parágrafos. Única e exclusivamente para não perder o hábito de ouvir o tec-tec do teclado.

11.7.07

collaborative non-linear story writing

Novlet is a web application designed to support collaborative writing of non-linear stories in any language. With Novlet you will be able to read stories written by other users, create your own ones, and choose the plot you like most from several alternatives.

Supimpa, hein? Eu já me cadastrei e até escrevi uma passagem modesta. Ide!

20.6.07

dez contos de dez palavras

O controle remoto, desleixado na cozinha, e a televisão chiando. // Um nome só afastaria o silêncio da beleza dela, cara. // Socou-o com toda a força para expelir o pedaço de frango. // Silvana soprou cinco besteiras no ar e ouviu um silvo sincero. // Fecharam a janela para impedir que seu último suspiro escapulisse. // Meu amor antigo jaz morto junto com meus óculos escuros. // Aquilo que não te matar, Bernardo, vai te fuder. // Bernardo quase que escapou do acidente que estava para fudê-lo. // Havia somente um lugar onde poderiam ter esquecido as passagens. // Para ser boa, nem toda estória precisa começar e terminar.

13.6.07

silêncio

Pode ser o abrigo dos secos de palavras, das carnes sem sangue, dos olhos sem humor vítreo, dos fetos sem placenta, dos pré-molares sem arcada dentária, dos blogueiros que já postaram todo dia e agora já cansaram.

Pode ser também a desculpa dos preguiçosos: lirismo tem limite.

10.6.07

I wanna go away.

Just a little bit. For a little while.

19.5.07

- Ei, mulher, o povo do gueto mandou avisar que vai rolar a festa.
- Pois eu tô nem aí.

6.5.07

Ninguém esperava uma confrontação entre o Sol e a Lua, mas aconteceu que, certa vez, ambos reuniram-se no topo de um prédio, cobertos pelo céu roxo arroxeado; ele vestia-se com uma toga vermelha a cobrir-lhe metade do torso; e ela de terno, olhos e cabelos negros que preenchiam toda a extensão da cobertura do edifício. O Sol sorriu e olhou para a Lua, que detinha-se de pé, os braços retos e imóveis ao lado do corpo, o rosto inescrutável.

- Que anseias?
- Tu sabes tratar-se, certamente, da mesma querela primeva, cavaleiro negro.

A Lua suspirou, olhando para o chão.

- E dos mesmos nomes.
- Desejava que o encontro permanecesse puro e intocado, mesmo a antiga etiqueta.

O vento do norte soprou mais uma vez. O Sol continuou, sorrindo e andando pelo parapeito.

- A primeira disputa foi, inesperadamente ... interrompida.
- O cavaleiro branco interviu, sim.

O dia rendia-se à noite, mas Dia não levantava-se de sua cadeira: observava, nada mais faria, aqueles dois brigando por momentos dentro dos corações dos homens. O crepúsculo afundava no horizonte.

ai, ai

essa noite pós-chuva: silenciosamente fria.

10.4.07

caio, novamente e again outra vez

Com a licença sua,

Pensei numa palavra e me veio rimbobar. Devo ser o mesmo que trovejar, fazer barulho, muito e grande.

Agora aos meus sentimentos, criptologicamente expressos, que tem de haver o mínino de boniteza para que as palavras comecem em catarse, e terminem em outra coisa, não-minha e, de preferência, longe de mim.

Principío minhas lamúrias falando que não sei responder quando me perguntam e aí? como está? Não me há observação de mim mesmo e o pronome oblíquo faz-se presente, roubando a abertura; não me olho, em busca de algo que esteja, para ser contado; não faço isso, não sei por quê. Não acho difícil falar de mim, mas responder a dita cuja parece algo tão longíquo de onde me concentro - ou encontro - encontro implica convergência, unidade: e o que há neste corpo de tão inexorável e involuntário que não me deixa a sós comigo mesmo? Prossigo, em primeira pessoa.

Há os trabalhos de faculdade. Não desejo fazê-los, já disse. Me estressam, crio aftas, me canso, faço coisas deste tipo, coisas que não gosto de fazer: esse tipo de coisa que não gosto de fazer é para isso que tenho o psicólogo. Não me agradam trabalhos de faculdade, ou provas, ou testes que me analisam. Não gosto de olhos em cima de mim. Só dos meus e dos dos meus.

Essa brincadeira dos tags é legal demais: é o resto disto daqui, sendo outra coisa.

Estou em busca da face perfeita: na verdade, faço minha barba toda semana, moldando, shaping trezentos e cincoenta caios diferentes.

O que me lembra que o Fernando Pessoa é o David Bowie da poesia.

Textos meus-meus são, assim, curtinhos, pois a catarse é envergonhada e não sai destilada.

Obrigado e volte sempre, que nem sempre é assim.