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19.3.08

the duality of blog

O blog é um depositário de ficções, onde minha palavra rabisca selvagem o fundo branco, sedento de vogais e consoantes. Sílaba ante sílaba, ofereço verbos e vírgulas. A sede, sem fim, transmuta-me em instrumento do blog, como uma mão enluvada que pega ao lápis negro e escreve na folha almaça. Gasta a ponta, afia-a para escrever novamente. Depois, guarda-me no estojo velho. Ali, enxergo canetas, borrachas e um estilete. Todos amontoados. Somos engolidos, lápis, canetas e o estilete: o zíper tranca-nos em escuridão, onde repousamos silenciosos até o próximo chamado.

... Assim seria não fosse o blog um depositário de ficções, e minha palavra, escrita, não com lápis e borrachas, mas por dedos contra um teclado.

25.2.08

BUCK, Pearl S. A Grande Travessia.

Assim começa o livro:

É um dom peculiar do artista ser capaz de adentrar pelas outras pessoas, e isso se aplica, principalmente, aos romancistas. Eu e ele discutíramos esse dom muitas vezes, e ele sempre me perdoara quando eu me deixara absorver temporariamnte por outra pessoa que não ele. É uma estranha absorção essa, e eu não sei como descrevê-la senão comparando-a com o foco de interesse total, essencial ao cientista teórico. Tais cientistas são, por temperamento, artistas, e nós não podemos fugir ao que somos.


Desde a morte dele, eu não fora capaz de me deixar absorver por ninguém, até nesta tarde, quando, durante uma hora, o velho hábito voltara. Estava cheia de um novo ânimo, e quase esperançosa. Pelo menos, sentia-me aliviada, embora por pouco tempo, da tristeza em que havia tantas semanas estava mergulhada. Ri do fundo da minha alma e, durante uma hora, senti-me curada. Posso afiançar que cumpri meu programa para esta noite e me deitei a uma hora razoável, pela primeira vez em muitas semanas. Isso marcou o começo de uma nova etapa.

Apesar do sentimento de renovação ou alívio, que dificultaria a complicação posterior da história, parece início de romance, não? Contudo, está, na verdade, localizado na página 149 do livro.

Mas que parece, parece.

19.7.07

a convite

Todo de terninho e gravatinha no blog dos outros: parece gente. Ide!

11.7.07

babylon

groan: gemido; suspiro; mugido; berro

"Gemido" e "berro" juntos? Djabéisso?

20.6.07

dez contos de dez palavras

O controle remoto, desleixado na cozinha, e a televisão chiando. // Um nome só afastaria o silêncio da beleza dela, cara. // Socou-o com toda a força para expelir o pedaço de frango. // Silvana soprou cinco besteiras no ar e ouviu um silvo sincero. // Fecharam a janela para impedir que seu último suspiro escapulisse. // Meu amor antigo jaz morto junto com meus óculos escuros. // Aquilo que não te matar, Bernardo, vai te fuder. // Bernardo quase que escapou do acidente que estava para fudê-lo. // Havia somente um lugar onde poderiam ter esquecido as passagens. // Para ser boa, nem toda estória precisa começar e terminar.

22.4.07

Nesse mundo só tem mito, símbolo. E gente, que é preu não ficar sozinho.

10.4.07

caio, novamente e again outra vez

Com a licença sua,

Pensei numa palavra e me veio rimbobar. Devo ser o mesmo que trovejar, fazer barulho, muito e grande.

Agora aos meus sentimentos, criptologicamente expressos, que tem de haver o mínino de boniteza para que as palavras comecem em catarse, e terminem em outra coisa, não-minha e, de preferência, longe de mim.

Principío minhas lamúrias falando que não sei responder quando me perguntam e aí? como está? Não me há observação de mim mesmo e o pronome oblíquo faz-se presente, roubando a abertura; não me olho, em busca de algo que esteja, para ser contado; não faço isso, não sei por quê. Não acho difícil falar de mim, mas responder a dita cuja parece algo tão longíquo de onde me concentro - ou encontro - encontro implica convergência, unidade: e o que há neste corpo de tão inexorável e involuntário que não me deixa a sós comigo mesmo? Prossigo, em primeira pessoa.

Há os trabalhos de faculdade. Não desejo fazê-los, já disse. Me estressam, crio aftas, me canso, faço coisas deste tipo, coisas que não gosto de fazer: esse tipo de coisa que não gosto de fazer é para isso que tenho o psicólogo. Não me agradam trabalhos de faculdade, ou provas, ou testes que me analisam. Não gosto de olhos em cima de mim. Só dos meus e dos dos meus.

Essa brincadeira dos tags é legal demais: é o resto disto daqui, sendo outra coisa.

Estou em busca da face perfeita: na verdade, faço minha barba toda semana, moldando, shaping trezentos e cincoenta caios diferentes.

O que me lembra que o Fernando Pessoa é o David Bowie da poesia.

Textos meus-meus são, assim, curtinhos, pois a catarse é envergonhada e não sai destilada.

Obrigado e volte sempre, que nem sempre é assim.

18.3.07

eles novamente

Puta que me pariu: dois-pontos é um troço muito mothafuckin' sexual, doido.
Regra número um: Escrever. Escrever sempre. Escrever bem. Ou não escrever.

Diário. Blog português, salvo engano.
Da Wikipedia:

According to the Oxford English Dictionary
in English, the earliest historical meaning of the word information in english was the act of informing, or giving form or shape to the mind, as in education, instruction, or training.

Do Aurelinho, o verbete em suas cinco definições:

in.for.ma.ção sf. 1. Ato ou efeito de informar(-se); informe. 2. Fatos conhecidos ou dados comunicados acerca de alguém ou algo. 3. Instrução, direção. 4. Tudo aquilo que, por ter alguma característica distinta, pode ser ou é apreendido, assimilado ou armazenado pela percepção e pela mente humanas. 5. Qualquer seqüência de elementos que, por distinguir-se de outras seqüências de mesma natureza, produz determinado efeito e serve para transmitir e armazenar a capacidade de produzir tal efeito. [Por exemplo, as seqüências de grupos de átomos, onde, nos cromossosmos, se localiza a informação genética; ou seqüência de sinais magnéticos ou elétricos, os bits, para armazenamento e processamento de computadores.] [Pl.: -ções.] in.for.ma.ci:o.nal adj2g.

O antônimo de informal é formal. O antônimo de informação é formação?

14.3.07

doze contos de dez palavras

Vende-se restos de batom - vermelho - paixão - já - esmorecida - pelo - tempo. Tratar com Ricardo. // Acendeu duas luzes: a da cozinha e a outra da faísca do disparo seco. O bife queimou. // Tirei os óculos, um momento, para enxugar as lágrimas e acabei entrando no ônibus errado novamente. // Meu coração era tão pequenino: conseguiu tomá-lo num golé só. // As luzes eram intermitentes, a respiração era intermitente: angústia constante. // Conheceram-se: casaram-se dois meses depois sem nunca terem se beijado. // Encheu o saco daquele lugar: foi-se pra França ser michê. // Sou o primeiro conto dessa página e vou acabar agora. // Acertou o alarme em oito horas: às nove, ia amar. // Carmem estremeceu: só ouviu o som do seu próprio orgasmo. // A peça havia chegado ao fim e Mauro não gozou. // Eu sou o último conto da página: a aula acabou.

Produto da aula hoje de Estilística: a professora falando de fono-meus-ovos-estilística e nós brincando dissaí.

5.3.07

minicontos, nanotales

Jules Horne, blogueira do The Guardian, falando sobre nanotales, escreveu:

These distinguished writers, often at the maverick outer edges of their art, weren't interested in offering up quick fixes for us to absorb between tube stops. They were drawn to its special challenges: the distilled essence of storytelling, the condensed emotion, the perception shift, the power of the unexpressed.

E também que estes microcontos fit beautifully into a blog. E ela está certa: os parágrafos quadradamente posicionados na tela, as linhas duplas formando retângulos: tudo geometricamente estetizado.

Contudo, claro que não tem somente coisa boa: Jules também fala da aflição que sente ao ouvir que os nanotales são perfeitos para estes nossos tempos globalizados, na qual tudo é em pílulas, em doses homeopáticas e o DDA corre solto. Em inglês.

4.3.07

prosa boa é que nem vidraça

Good prose is like a windowpane, diz George Orwell, no ensaio Why I write, referindo-se ao apagamento de personalidade do qual o escritor necessita para escrever algo, no mínimo, legível. Também estabelece four great motives for writing, sendo os ditos cujos:

1. Egoísmo puro e simples
2. Enlevo estético
3. Impulso histórico
4. E propósito político

Não termina nem começa por aí: o escritor inglês também fala de suas poesias, da guerra civil espanhola e de suas esquisitices infantis. Em inglês, com bigodinho e tudo.

26.2.07

A vocação literária dos dois pontos é fora-de-série.

24.2.07

De dentro do Aurelinho

O quanto sexo (ou amor) e morte (ou morbidez) são contígüos.

lân.gui.do adj. 1. Sem forças; fraco, debilitado, langoroso. 2. Mórbido, doentio [Antôn. (de 1): enérgico, robusto; (de 2): saudável; sadio.] 3. Voluptuoso, sensual, langoroso.

Fantástico, não?

12.2.07

faz-se unhas

- É fazem-se, tia.
- Elas ficam lindas do mesmo jeito, meu filho.

11.2.07

brincadeiras, exercícios

E um microuniverso, onde cada passo é pisar em ovos, forma-se ao redor de cada palavra. E como se tudo não fosse tão errado; como se cada coisa tivesse seu sentido mais uma vez; como se o abismo não perscrutasse-me de volta nos olhos, sub-repticiamente, aproximei-me.

E o vermelho e o negro abarcaram toda a imensidão daquilo que podiam abarcar: acabei-me invisível, como a linha do horizonte, existindo por oposição.

***

início (+ - 23:50h)

Sangue da boca é
sangue na boca sangrenta
da bocarra sanguinolenta.

Sangue bucal
no sangue bucólico.

Bucolismo venéreo é
verdade de sangue.

Da boca, de sangue,
sai verdade, mentira
tudo de sangue.

Sangue, na boca de sangue,
é sangue da boca
do mesmo jeito.

término (+- 23:59h)

28.1.07

Somente depois de fechar os olhos e respirar o mormaço do quarto escuro, percebeu os finos raios amarelos escorrendo pelas frestas da persiana; não deitou a cabeça outra vez no travesseiro; sentou-se com o lençol ainda cobrindo suas pernas, coçou um dos olhos e com o outro olhou para a mancha de suor na cama.

Era manhã, mas havia ido dormir somente às três da madrugada do mesmo dia. Não havia escovado os dentes ou tomado banho. Não tirara as calças. Os cabelos pregados nos lábios. Era manhã, mas ainda não queria se levantar.

Tenho um arquivo que chama "doodles", só de coisas jogadas, palavras perdidas e frases tentando formar um texto; tem uns que mexo pouco, tem outros que mexo muito. Tem uns também que eu não tenho paciência de mexer: posto logo.

1.1.07

Primeiro post do ano


Este é o primeiro post do ano; aqui, você não encontrará resoluções de ano-novo, nem instruções sobre como viver a sua vida em dois mil e sete: aqui, você encontrará o primeiro post do ano. E todas as outras coisas que você quiser encontrar aqui, além do primeiro post do ano.

Mas isso não importa. Não importa que aqui você encontrará o primeiro post do ano, e todas as outras que você quiser encontrar, além do primeiro post do ano; não importa se você não se encontrar aqui, ou em outro lugar; também não importa se você não encontrar aqui o primeiro post do ano: o que importa é que você tem que se decidir, you've got to let me know, should I stay or should I go?

23.12.06

Três temas, dois meus.

Verbalismo. Não me encontro nos atos. Sou pálida, estática, um espelho, um lago sem vento. Estou nas palavras, é lá que vivo, respiro, faço a minha parte.

Palavra. Não me vejo na carne; transparente, me confudo no reflexo da lua cheia. Meu sangue são versos inacabados: é nele que sinto, que me sinto real.

Solidão. Sou um lobo noturno, silencioso, deslocado. Sinto o cheiro de sangue, largo-me aos instintos, caço minha presa, arranco-lhe a pele do pescoço, vampirizo-lhe. Faço minha parte.