16.9.05

Centésimo Trigésimo Terceiro - Terminei De Ler "O Dragão", Do José Alcides Pinto.

Eu não aguento mais, meu deus.
Tá bom, já chega.
Não quero mais as minhas mãos,
nem meus dedos,
nem meu sangue ou
minha alma.

A minha alma, meu deus,
pequenina,
esquecida pela história - não vou nem falar da com H maiúsculo.
Não vale a pena.
Não quando a alma é pequena.
Não quando a angústia é tudo que tenho.
Não.
Não quando aquilo que quero já é meu.
Não quando meus sonhos são atingíveis.
Não quando procuro respostas.

A vida vive de dúvidas,
a alma se alimenta de motivos,
não de porquês,
não de limites.

A minha alma, meu deus,
deixa ela ficar comigo,
deixa ela dormir junto de mim
dentro do caixão
para eu ter um companhia eterna
nesse mundo que vai vir
que não sei como é
e tenho medo de saber - e de quem sabe.

Tudo que tenho nesta vida
são minhas faces - palavras ? -
e a minha ínfima dor
que pouco material
silábico me empresta.

Me resigno, porém,
pois adaptação é meu terceiro nome.
O segundo é marinho.
E, como mar, venho e vou,
fico roçando o seio da praia
num quase ser-e-não-ser.

E, não obstante tudo, quase esqueço:
Nada me salva tanto, meu senhor,
como um abraço e um cheiro
daquele - que é nosso, antes de mais nada -
amor.

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