27.6.05

Vigésimo - Da Liberdade.

A gente não vive sem escravos.
As mulheres do McDonald's que são obrigadas a fazer aquelas tranças que quebram o cabelo todim são nossas escravas. As nossas empregadas que pagamos um salário de 140 reais mensais são nossas escravas. Os mecânicos que enchem os pneus dos nossos carros de graça - mas que nós damos algumas moedas para tirar o peso da consciência - yup: eles são nossos escravos.
Aquele menino nojento que entra no ônibus vendendo jujuba e falando: "bom dia, senhoras e senhores. Eu venho aqui, mas eu podia tá roubando..."
Ele também é nosso escravo. De um bocado de gente aliás.
A única diferença dos escravos de hoje com os prisioneiros de guerra e os negros de antes é que a gente paga os nossos, o que não melhora muita coisa não. Enquanto a Branca tem 300 reais de conta pra pagar todo mês, ela recebe 140 de salário - com descontos por dia faltado - e o marido vive batendo nela. Como é que dinheiro vai melhorar a situação de uma pessoa dessa ? A vida da gente não se ajeita com míseros 140 reais.
A liberdade nunca fica em promoção. Sempre custa caro, principalmente na Riachuelo. quem tem cartão de crédito e muita coragem, pode tentar parcelar o preço da liberdade em 24 vezes, o que é um paradoxo, já que a gente TEM que pagar o preço.
Aliás, uma perguntinha rápida: a liberdade é compatível com a felicidade ?
Aliás, mais fácil. Ela é compatível com a responsabilidade ?
Não vou responder essas perguntas agora. Mas o meu palpite é que são sim. Devem ser. Aquele "código moral e ético socialmente estabelecido" que tantos filósofos pregam por aí tem tanta cara de que é uma puta mentira inventada por quem acabou de beber oito copos de tequila, que muita gente já mandou essa idéia para a puta que a pariu.
Mas eu sou um otimista inveterado. Otimizo excessivamente. É uma doença - para mim - incurável.
Graças a deus.

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