18.10.05

Da Igreja do Diabo.

1. A metáfora principal do conto é a das capas de veludo com franjas de algodão. O veludo é a nossa máscara social, metade que mostramos a outrem; as franjas de algodão são a parte nossa mais vulnerável a desvios.

2. Dito isto, posso repetir a frase do próprio Diabo, ao ter a idéia da sua igreja:

"Há muitos modos de afirmar; há só um modo de negar tudo."

A transgressão das preceitos diabianos, ao final do conto, ilustram bem essa afirmação. As pessoas, na sua eterna contradição humana, quebram as regras - negam-nas - justamente por serem regras.

Depreende-se - deduz-se, compreende-se, percebe-se, infere-se - então a natureza humana pela ótica de Machado de Assis: o ser humano é um animal transgressor, desobediente, quebrador de regras, contraditório.

Interessante que as trangressões são realizadas sub-repticiamente, às escondidas. A manutenção das máscaras sociais é importante; está entre uma das máximas da boa interação social pelos olhos de Machado: não importam os paradigmas que regem as interações das pessoas: o que importa é que estes devem ser mantidos, para que o indivíduo não caiam em desgraça social.

E, como sempre, Machado retira de si a responsabilidade pela veracidade da história: entrega-a à um "velho manuscrito beneditino." Bicho fulerage.

Sumando: capas de veludo, franjas de algodão; capas de algodão, franjas de seda, não importam: a gente rasga tudo mesmo.

Deu pra captar ?

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