19.10.05

De Uns Passarinhos.

Os passarinhos batem na portinhola do banheiro, aquela que fica em cima do chuveiro, para o sol entrar, sabe? Eles bicam a janela, como fazem aqui em casa; lá, é na hora que ela toma banho: aqui, é no levantar, lá pelas seis. E não são poucos os penados, não. Vem de bando de três, ou dupla, ou mesmo um. É: de quando em vez, unzinho vem, só, bater na janela, estranhando a imagem refletida do vidro fumê. Aliás. Isso era o que eu achava: depois qu'ela me falou dessa história, descobri que tão bicando mesmo é a gente: são gentis demais para fazê-lo de uma vez: fazem por tabela, cutucando o vidro. Bicando a gente, como faz aquele final de tarde, que parece com o domingo todim e as noites de chuvas - estas últimas nem tanto. Bicam, cutucam, nos colocam para pensar, refletir, mas é reflexão esparsa, jogada, sem fundamentos filosóficos, o pensamento se embolando nele mesmo, tentando entender-se sem se desemaranhar. A mulher procura um motivo para ficar triste, sem tê nem porquê - porque ficamos tristes naquelas outonais: as amarelas, de comunhão com todo o resto que não a gente, os finais de tarde, começos da semana. Nessas horas, a nossa gaveta - porque a mente é uma gaveta - se abre e despenca no pé: de repente, percebo novamente que existo de novo. Esses passarinhos estão aqui e ali, lá e cá, para lembrar todo mundo - eu e ela, ao menos - que aquela sincronia do Jung existe: o universo, simplesmente, faz sentido; não faz porque alguém disse ou deixou de dizer: só por causa dos passarinhos mesmo. Culpa deles.

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