20.10.05

Do fim do tempo.

No dia 10 de agosto, quando ainda chovia no fundo do quintal, abri meu guarda-chuva esperando que o sol aparecesse. Mas isso não acontecera, então tive de voltar a dormir. A grama lá fora estava tão macia que decidi dormir ali mesmo. Puxei uma cadeira, sentei-me: adormeci estirado na madeira dura. Nunca tive muita carne nas nádegas, e isto me incomodou um bocado: demorei a pegar no sono. Após acordar, com o sol, fui-me para dentro de casa. Lembrei-me de que quando o sol nasce, a lua se fecha: tem de se abri-la: esse é o meu trabalho. Guardo a lua dentro de minha casa e todo dia espero que a chuva cesse para que possa tirar o astro de sua caixinha pequenina. É um erro pensar que ela se abre, muito comum: quem se abre é a caixa. E, a quem interessar, também há outra caixinha, onde guardo a luz da lua, que deve ser aberta junto quando se abre a da lua. Abrindo a lua, abre-se a luz: inevitável. Impossível fazer de outro jeito, abri as caixas, e senti minha pele queimar: deveria escolher um sucessor. Nessa hora, senti o céu se fechar, o sol desaparecer e o paraíso inteiro se voltou para mim, esperando uma decisão, ansioso. Não pestanejei: designei meu filho, que também dormia lá fora, na grama já seca pelo pouco sol.

- Filho, acordai! És o novo abridor da lua!
- Agora não, pai.
- Sim, agora! Vamos, o mundo, a noite, o tempo espera-te! Anda!
- Você passou a chuva inteira dormindo, me deixe por algum tempo aqui.
- Não! Sua família mundial depende de você! Anda! Ide! Abri-a!

O filho se levantou, resignado e bufando, mas o pai havia trancado a porta pelo lado de fora, sem querer. Com eles, só restava o guarda-chuva, o paraíso, a cadeira e todo o resto.

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