15.7.05

Trigésimo Quinto - Vixe, morreu.

Morreu. Ah, mas não se preocupe, não, meu filho, que foi morte boa, bem morrida. Morreu pensando na vida, nos amores, nas crianças, naquele suco de laranja que tomava aqui em casa toda quarta-feira. Só coisa boa.
Ele estava deitado lá dentro, no quarto, quando pediu uma aguinha para mim. Claro, meu filho, nesse minuto. Chispei pra cozinha e enchi um copo com a água que tava no congelador - tinha colocado hoje de manhã, sei como ele gosta - e levei para ele. Ele bebeu até o final. Brigado, mãe. Shuu... Descansa, meu filho, descansa que amanhã a gente vai no centro fazer o mercantil do mês. Tá bom, mãe. Tá bem.
Daí, de manhã, o nojento amanheceu morto ! Ora mais ! Sem se despedir da mãe, isso lá é coisa que se faça ? Ah, mas eu não estou com raiva, não. Aquela criatura tava feliz, dava pra ver no nariz dele. Ele chamava "Mãe..." e abria e fechava as narinas - depois começava a rir, caia na gargalhada. Eu nunca gostei quando ele fazia isso, é muito estranho, parece que o nariz vai saltar fora, mas era só ele fazer isso que tava feliz.
Ah, meu deus desse céu lá em cima, como é bom a gente ter certeza das coisas, meu deus. É bom demais.
Mãe, vamos pra missa. O carro chegou.
Tô indo minha filha, tô indo agora.
Falando com quem ?
Nada não, minha filha. Conversa de velha.

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