6.7.05

Vigésimo Nono - Sangue Na Boca.

Ou "Tudo Que Sempre Quis Na Vida Foi Verdade."
Tudo que sempre quis na vida foi verdade, e algumas vezes até conseguiu, mas não foi o suficiente. Todas as verdades que já encontrara não eram tão reais quanto ele achava que seriam. Elas não tinham a lógica necessária ou o respaldo científico do qual precisava. Elas não eram as melhores, mais as aceitou assim mesmo, imperfeitas, como pessoa resignada que era.

Tudo na sua vida baseava-se no trinômio: resignação, adaptação e repressão, como qualquer boa alma adaptada á sociedade. Acordava, vivia, nunca se machucava: era precavido. Não havia cicatrizes, não havia marcas, não havia sinais, não havia resquícios daquela tarde em que caiu da bicicleta quando seu pai tirou as rodinhas e não lhe avisou. Ele nem se lembrava direito. Devia ser mentira, afinal não havia marcas para provar. Nada.

Tudo mais era branco. Tudo mais era branco demais. Tudo mais era branco demais para acordar. Tudo mais era branco demais para acordar e não se machucar. Resolveu se machucar. Sangue na boca, no travesseiro, no colchão, no chão. Nada.

Um comentário:

Suyá Lóssio disse...

Sangue no corpo inteiro, principalmente, nos pensamentos.