24.8.05

Octogésimo Quarto - Dos Meus Desejos.

Eu não quero mais minha
angústia
que eu não sei de onde vem.

Eu quero a minha saudade - aquela ausência que está em mim.
Eu sei de onde ela vem,
E dou graças aos céus por ter
saudade
e ser capaz de sentir
saudade.

Eu não quero minha raiva: dá úlcera.
Eu não quero fazer prova: quem precisa saber se eu sei sou somente eu mesmo.

Eu quero não precisar reclamar: ouvido dos outros não é penico pra eu urinar minhas reclamações.

Eu quero um abraço.
Bem fortão.
Pra apertar pra fora a minha angústia besta.

Eu quero escrever poesia,
Mas não poesia pra extravasar.
Verbalizar minhas preocupações eu verbalizo em outro canto.
A minha poesia eu quero que seja
boa e gostosa
De ler.
Como é a do Rubem Alves,
Do Drummond,
Do Pessoa e
Da Cecilinha.
E ainda o Airton Monte.
Eu quero tanta coisa, meu deus.
Tanta coisa.
Não queria querer tanta coisa,
Desejar demais é viver de menos, infelizmente.
Olha aí: melancolia já apareceu.
Esquece isso: desejar demais é ter motivos para viver.
E viver é
Bom.
Bom demais.
Os mortos que me perdoem,
Mas viveza é essencial.
E poesia idem.

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