15.8.05

Septuagésimo - De ouvidos e bocas.

Seguinte.
Existem dois tipo de pessoas: os ouvidos, que ouvem; as bocas, que bocam. Quem é boca, pode ser ouvido, quem é ouvido pode bocar. Não são categorias excludentes, são categorizações dialéticas da alma.
Quem é ouvido, ouve. Ah ! E existem as vocações ! Lógico ! Tem gente que é como o Príncipe Charles e nasceu pra ser ouvido. Mas divago. Quem é ouvido - voltando - ouve. Ouve reclamações, ouve pedidos, ouve perguntas, ouve respostas, ouve comentários, ouve poesia, ouve lágrimas, ouve soluços, ouve histórias, ouve outros ouvidos. Mas ouvido é ouvido, meu caro. E não fala. Quem dá conselho é boca.
Quem boca, quem possui a habilidade/vocação para a bocagem, boca e se sente bem ao bocar. Boca, logicamente, aos ouvidos. Bem simples. Boca da vida, boca da morte, boca das entrelinhas, boca dos amores - como bocam as bocas sobre o amores, meu deus ! - bocam de desenhos, bocam da família, bocam de cachinhos, bocam das melenas. Bocam sobre outras bocas que não param de bocar. Mas não é hipocrisia. todo mundo precisa bocar aqui e ali, pelo menos. Não tem ouvido que aguente ser ouvido vinte e quatro horas, sete dias por semana - até nos fucking domingos ! Céus !
O importante é saber que existe um - ou mais - ouvido só pra você, te esperando, aguardando suas bocagens. Podem até ser escassas, mas, ah, como é bom ser boca pra quem gosta de ser ouvido, meu caro. Como é bom.

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